sexta-feira, 24 de abril de 2015

Célular

O celular desperta,
O celular avisa que está na hora de tomar água,
O celular descreve qual a refeição a ser tomada,
O celular mostra o lembrete dos remédios a serem tomados,
O celular calcula (e recalcula) a rota mais rápida até o trabalho,
O celular avisa do acidente e da blitz,
O celular mostra o que as pessoas fizeram nas ultimas horas,
O celular ajuda a encontrar a vaga,
O celular exibe as notícias do dia,
O celular demonstra o local apropriado para almoçar,
O celular avisa que é hora de tomar água,
O celular indica as últimas tendencias da moda,
O celular faz o intermédio para conversas (em grupo e particulares),
O celular exibe as tristezas e insatisfações,
O celular mostra para onde ir a noite,
O celular indica que já é hora de sair do trabalho,
O celular mostra a nova leva remédios e simultaneamente lembra sobre a água,
O celular mostra com quem sair a noite,
O celular dá uma trilha sonora ao lento passear do ônibus,
O celular lembra que já é hora de dormir.
O celular envia mensagens indesejadas,
O celular recebe mensagens mais indesejadas ainda,
O celular salva imagens que não deveriam existir,
O celular encontra o tàxi e o chama,
O celular paga a conta,
O celular lembra que a hora de acordar está próxima.

E ainda não sabem o porquê da bateria dO celular durar tão pouco.
Se você só segue as ordens dele fica cansado, imagina ele que até quando está dormindo, está recebendo mensagens.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Épica da Vida Real - Pegando um trem

Um dia estava a me questionar, para quê existem tantas crônicas, histórias, filmes, novelas e seriados se a vida comum do dia-dia já nos oferece mais ação do que é possível assimilar.


Por exemplo, andar de trem junto ao fluxo, não é uma aventura tão cansativa como a demanda enfrentada pela comitiva de senhor dos anéis, mas tem seu nível de fadiga. É fácil para qualquer um perceber o que torna algo tão cotidiano uma aventura: o preparo exigido pela mazela, a caminhada até a estação de trem, a longa fila para pagar tributos com o fim de começar a aventura e uma segunda fila para assumir uma posição na linha de frente da guerra. 

A partir dai as coisas ficam mais perigosas: a tensão entre se encostar ou se posicionar estrategicamente em frente aonde a porta deveria estar, os momentos que precedem a parada do trem e parecem durar dias, enquanto as portas passam e o espaço dentro dos vagões(que nos primeiros já não era muito) rareia. 

Alguns tentam lutar contra o destino de um vagão mais cheio, correndo atrás das portas como cães correm atrás de carros. Outros, normalmente mais experientes, já estão exatamente onde querem estar, veem o passar dos vagões como apenas parcelas da vida que não podem acessar por conta de um destino cruel aliado a uma má sorte, observam com pena e saudades aqueles que correm, pois são as imagens deles mesmos a muito tempo atrás.


O trem para. O tempo para. O desespero cresce nos olhos de quem corria inutilmente e também daqueles que escolheram o lugar errado para esperar. A satisfação inexiste nesse momento, Até aqueles que escolheram bem a posição, sabem que o pior está por vir. 

As portas abrem, o tempo volta a fluir. Aquele que até aquele momento fora um valioso aliado, agora é o pior inimigo. Todas as pessoas que estão fora do trem precisam estar dentro do trem, em até 10 segundos( sensação temporal de dois segundos). A diferença entre quem sabia onde esperar e quem não, é que aqueles que estavam no lugar certo já respiraram fundo, os que erraram agora exigem o máximo de seus músculos, sem respiração, não há oxigenação, os músculos começam a produzir energia através de fermentação láctica. Uma mistura de câimbra e dor abala o corpo, mas aqueles que ainda pretendem adentrar o trem possuem a mente límpida para gerir a dor e encontrar seu caminho em meio as pessoas.

Lá dentro a  situação não é muito melhor, mas esta já é outra aventura épica.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Cólera de ônibus

É definitivamente o fim dos tempos, o dólar está em alta, o funk na moda e a violência frequente. Mas esses eram apenas sinais de que o fim está a espreita, agora ficam mais claros: as coisas estudadas em física na escola agora poderiam salvar vidas. Um dos arautos do apocalipse, a linha BRT no rio de janeiro, executa sua cólera divina na população local desde suas instalação.

Primeiro ele testa o bom senso; aqueles que não o detém e usam sua faixa exclusiva (a qual deveria se chamar rota 66) como calçada ou ciclovia acabam indo ao fim primeiro.

Então ele testa a capacidade de visão da população. É impossível cuidar do próximo se a pessoa não é capaz de observar o redor e interpreta-lo. Na fase de crescimento todos escutam os dizeres sagrados: "olhe para os dois lados antes de atravessar". E o brt nem exige tanto, ele só vem de um lado. Aqueles que em uma linha reta e plana não enxergam um ônibus de porte maior que o comum e com dizeres eletrônicos acesos em led na sua fronte são convidados a vê-lo mais de perto em outro plano.

Agora o ônibus possui linhas diretas e semi-diretas, o BRT pune sem dó aqueles que são menos atenciosos com uma longa, cansativa e desnecessária viagem. Não sem motivos, ele o faz para todos que cometem tal erro aprenderem a atentar-se a detalhes menores. A morte seria uma consequência demasiada para esses que ainda tem cura.

Mas ainda existem pessoas que desafiam o misterioso e onipresente conhecimento que o BRT oferece. Essa semana testemunhei algo incrível: adolescentes que pegaram o ônibus direto e estavam sendo punidos; revoltaram-se. Pressionaram a trava de segurança. forçaram a porta do BRT. Esperaram ele diminuir a velocidade e.. Pularam. 

O BRT com a trava de segurança proporcionou uma chance para aqueles que foram desatentos tomarem seu rumo de volta, mas ele exigiu algo mais desses ousados. Conhecimento sobre física, leis de Newton, Inércia. Tudo que está em  MOVIMENTO, tende a ficar em MOVIMENTO. O menino pulou e tentou parar em pé. A partir deste momento as únicas certezas que tive foi a de que ele caiu rolando e que vinha um segundo brt logo atrás. 

Creio eu que ele tenha morrido e o BRT tenha passado sua mensagem a todos.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Gente esquisita (eu)

    Oi e sim, mais um daqueles. Caso você seja novo por aqui e não saiba do que estou falando (ou digitando, que seja) existem textos que eu não escrevo crônicas, apenas experiências e fatos da minha vida a partir da minha perspectiva. O blog é meu, publico o que quiser. Faz algum tempo que não publico nada exclusivamente nesse estilo, então vou lhes atualizar sobre o que aconteceu nesse filme b chamado minha vida nos últimos dias: passei para a faculdade, mudei de casa, moro com gente nova, tenho uma porrada de novas responsabilidades.
    Eu não sei vocês, mas eu sempre tive essa impressão de que depois de um empurrão  tudo vai mudar e então as coisas começariam a se encaixar e o mundo seria um lugar melhor. Só falta o primeiro empurrão. Quando eu entrasse na faculdade as coisas começariam lentamente a tomar o rumo certo. Se eu me mudasse para fora da casa dos meus pais seria forçado a mudar minhas atitudes. E cá estou eu, matriculado, morando longe, saindo terças e quintas.
    E não é de todo ruim, um lampejo de sociabilidade não me atingiu, eu não me tornei aquilo que chamam de membro respeitável da sociedade; ainda sou eu. Não sei dizer o que falta, mas falta. Apesar de não ser o mais novo do grupo não sou aquele que tem mais histórias, sei que parte disso se deve aos meus, eu diria, 7 anos de vício. Não acho que tenham sido sete anos jogados fora, mas parece que faltou algo. E bem, ainda agradeço bastante aos envolvidos no canal Extra Credits por fazerem os vídeos os quais me fizeram perceber aquilo que minha mãe tentou me avisar anos a fio; eu não estava vivendo. 
    Eu passei horas incalculáveis em frente a realidades fantasiosas, o que não seria problema se fosse uma opção, mas não era. Eu não tive um plano b, não era escolher entre sair com amigos para perambular pela rua ou jogar algo. Eu não tinha muitos amigos. Os grandes amigos que tenho me são queridos até hoje, e os adoro, e eles me chamavam apesar dos problemas de distância e horários incompatíveis. 
    Parece que perdi toda a minha adolescência onde eu deveria cometer meus erros e fracassos e todos diriam, ok, você era jovem. Agora eu tenho medo de tentar. Me apoio forte na minha zona de conforto social que consiste única e exclusivamente em afastar todos que me são queridos. "Prefiro não ama-los a ter de lidar com a dor de perde-los" eu repito. Acontece de maneira lenta e horrível. Ao invés do seco e doloroso fim de uma execução limpa eu matei meus amigos como afogamentos em minha memória. Um dia paramos de nos falar e então nunca mais nos falamos, como completos estranhos que um dia tiveram algo em comum, mas nenhum de nós sabe mais o que. Agora as conversas só geram silêncios constrangedores e assuntos vazios. Desculpem-me amigos, eu os abandonei. Jonatan da avenida, Victor do equipe, José do américo, Newton e Iago do ressu, Nycholas do pré, se um dia lerem isso, não me falem, não vou saber reagir.
    E mesmo agora, na faculdade, eu não sei o que fazer. Não em relação ao curso, acho certas coisas incríveis no curso apesar de ainda duvidar dá minha capacidade na hora de trabalhar. Nada que um salário não me motive. 
    Apesar de tudo eu sinto que a vida não me recebeu de volta. Hoje em dia já tenho a opção entre o viver e o jogar, mas o meu viver parece sempre superficial, nunca indo ao máximo em nada, nunca falando com ninguém sobre essas coisas, nunca me permitindo ir além com ninguém, permanecendo sozinho nessa solidão que chamo de vida. Não é um lugar de todo ruim, afinal de contas é uma zona de conforto, o problema está em tudo que eu não consigo alcançar por estar dentro dela. 
    Acho que por hoje é só. Pelo resto do mês teremos insanidade em forma de crônicas e indignidades. Caso queria acompanhar mais da minha vida bugada tem o twitter, o @SrJuventude, mas se você quer ver alguém fudido de verdade tem o @luanlovato por que nem em ser errado eu sou bom. 
Um bom dia, uma boa tarde e uma boa noite.