sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Pulso

Desapega, desapega.
O quão simples, libertadora e difícil as ações descritas nessa frase— que é quase um mantra— podem ser de executar. Todos possuem um Norte na vida. Alguns vivem para transar, outros para amar. Há quem só para comer e também quem apenas para cozer. Na geração atual parece que muitos a fim de dormir, e, felizmente, muitos para sorrir também. 

Todos, em maior ou menor escala, possuem uma ambição que os guia entre as decisões ruins que constituem essa longa estrada chamada história pessoal. Enquanto uns remam contra a maré incessantemente, a grande maioria deixa a vida os levar. Não que lidar com o futuro seja fácil, mas deixar o passado é igualmente cruel.

As  coisas são assim naturalmente. Querem alcançar a perfeição, alguns gases já nascem nobres, outros se ligam incessantemente uns aos outros para alcançar a tão sonhada estabilidade. Que nunca chega. Um mais eletronegativo chega na parada, puxa os ións e as ligações, mexe nas covalentes, as vadias de van der walls saem com quem querem e quando querem, as apolares se fazem de santinhas, mas na pressão e temperatura certa e companhias erradas, se transformam.

O que na verdade é incrível, dessa forma fazemos eletricidade que nos deu as maravilhas de circuitos integrados que virou essa tela na qual você lê agora. Mais ainda, nos forneceu diversas comodidades como frigideiras anti aderentes que não roubam nossos omeletes porque esquecemos de botar manteiga nelas. O fato do universo ser tão dinâmico é o que faz viver valer a pena.

Perdas são necessárias para que o novo venha. Pior do que perder a casa de infância, perder o contato com aqueles que um dia já foram melhores amigos por descuido ou perder alguém querido para que ele continue sua trilha no seja lá que vier depois, é ser forçado a tomar essa decisão. Não se tem controle sobre a vida dos outros, se eles vão viajar, se eles mudaram de número, ou se brigaram com sua família, o simples fato de não poder controlar isso faz com que aceitar a perda do passado se torne menos pior. Pelo menos não foi minha culpa.

Mas se desfazer de algo por espontânea vontade. É simplesmente cruel. Um dos extremos desse caso é permitir ou não uma vacina letal no cão que acompanhou você por anos a finco. Ele já não late nem come da mesma forma que antes. A festa quando se chega em casa ainda está lá, sem mais pulos ou com toda aquela alegria, mas com olhos assíduos, embebidos em felicidade e alívio de poder estar junto ao dono por mais algum tempo.

Não só nos casos extremos, mas os pequenos abandonos diários. Jogar fora uma caneta por ela ter parado de funcionar, dar seus livros que agora parecem mais uma coleção de poeira ou as roupas que nem mais cabem em seu corpo ou estilo. É opinar entre ver aquilo que ama definhar em seus braços ou vê-lo nunca mais.

A parte boa de soltar é que abre espaço para o novo, e ele chega sempre. Novos livros ocuparão a estante, e se não forem livros, novos hobbies, experiências, aventuras. Quando perder algo, permita-se algum luto, mas o abandone quando for suficiente, nele você definha. Perca amigos, inimigos, oportunidades, roubadas e até mesmo seu Norte, mas não perca a sua força de vontade. Ela é quem faz tudo valer o suor, o tempo e a vida investida nas atividades.

Felipe Juventude

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