sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Pronto para servir

A vida é corrida: acorde; tome banho, arrume-se saia enfrente o trânsito cumpra prazos bata uma revanche com o tráfego e; durma para o próximo dia. Não se tem mais tempo para as coisas simples e belas: observar ao pôr do sol ou a um jardim. Se não temos mais esse tempo, o qual não consome mais que um suspiro, para simplesmente percebermos nossa existência e ganharmos um segundo de infundada felicidade, então não temos tempo nenhum para as coisas que realmente tomam tempo, como estudar ou preparar a comida.

Mas não se assuste caro leitor, pois toda vez que enfrentados com um problema cuja solução padrão não funciona (alegar ignorância) já não o resolve, o incrível ser humano dá um jeito. Foi criada uma maneira rápida e barata, o suficiente, para que todos tenham tempo para comer entre as longas jornadas de trabalho: Os enlatados. Comida pouco nutritiva e pouco saborosa, mas fundamental para continuar a viver nesse modelo frenético que o neoliberalismo nos proporcionou e aos poucos avança em direção aos outros setores de nossa vida privada.

Não me entendam mal, sou contra não ao capitalismo, muito menos a esse ou aquele modelo econômico. Também não tenho nada contra enlatados são ótimas opções, um dia ou outro, quando a rotina muda. É incrível ter algo para comer mesmo sem tempo, seja um salgado na rua ou ervilhas enlatadas. Numa emergência vale tudo.

Os enlatados foram criados em época de necessidade, era preciso produzir mais, trabalhar mais tempo. Realmente não se tinha tempo para preparar toda a comida; os enlatados também ajudavam a economizar, podia se comprar um grande estoque de latas que demorariam a estragar, mais do que as coisas embebidas em banda pelo menos.

Não só a população evolui, pois enlatados também evoluíram, esse pequeno teste que foi a comida enlatada se monetizou, tornou-se desejada, sonhos de toda criança a comida fastfood. Rápido, prático e "gostoso"; e cada dia mais rápido, já não temos tempo de escolher outra opção. E por que não ir além? Comida enche o estômago, nas não é a única coisa que temos de engolir.

Estudos se tornaram enlatados, é muito mais fácil convencer alguém de algo do que ensina-lo a chegar nessa conclusão sozinho, e quando se torna necessário faze-lo pensar por si, ele já não sabe e não quer aprender. "Para que?" Ele dirá. "Aprendi tudo para passar nos testes. Decorei todas as regras de pontuação e todas as fórmulas de física, nunca mais usarei isso na minha vida". Ele dirá. Mal sabe ele que talvez ele não use logaritmos ou números molares em sua vida adulta, mas que realizar esse raciocínio o ajudaria a veras nos próximos anos, mas era mais fácil comer essa educação enlatada, bater de frente com o vestibular para só então tentar aprender algo na faculdade.

Verdades absolutas, morais, éticas, entre outros são enlatados dá pior qualidade. Cegam as pessoas, que aderem a absurdos sem antes pensar sobre eles. Repetem sobre o chinelo virado que mata a mãe sem nunca perceber que era o único jeito de fazer a criança aprender. trabalham indiscriminadamente sem parar pra respirar, pensar um pouco sobre o que faz "o trabalho dignificar o homem". Importante lembrar que ainda são conhecimentos. Torpes, processados, vis, que buscam apenas colocar o cidadão "em seu lugar", mas que tem alguma base, algum fundamento. Não os ignore, apenas pegue esses enlatados, jogue na panela da mente, adicione sal e cebola, faça um belo refogado e capriche na pimenta, para ver o que de melhor ele pode te oferecer. Se ficar ruim, jogue fora e lembre da receita, para não repetir uma indigestão.

Felipe Juventude

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